terça-feira, 7 de julho de 2015

Uma menina e a irresistível vontade de ir


A culpa deve ser do meu coração selvagem.
Nunca fiquei em um lugar por muito tempo. Sou uma nômade do mundo moderno e não há nada romântico na minha história. Literalmente. A minha cabeça sempre está nas nuvens - sonhando, planjeando, criando - e às vezes é difícil descer à terra. É como se existissem duas pessoas diferentes dentro de mim - uma que quer segurança, uma família, uma casa com varanda, um emprego tranquilo, e muita paz; e a outra quer tudo de uma vez agora. Viajar, morar em cidades antigas e enormes, ter amigos extravagantes, frequentar bares estranhos, ir à shows de rock, ser designer ou artista, pintar o cabelo de todas as cores do arco-íris.
Como descubro quem das duas eu realmente sou?

E o pior não é a bipolaridade. O mais difícil é que o mundo é grande demais e a saudade das pessoas que deixamos para trás quando caímos nele é algo que eu não quero viver. Talvez eu já poderia ter ido. Denovo. Poderia estar nesse exato momento em um lugar bem distante, vivendo vários dos meus sonhos ao mesmo tempo. Mas eu não consigo ir e deixar mais alguém para trás.
Tudo que eu sei e tudo que eu sempre fiz foi ir embora e deixar pessoas.
E eu não quero isso para o resto da minha vida. A vida de nômade moderna é interessante e meio aventureira, mas é bem solitária. Você não tem amigos de infância que te viram na sua fase adolescente e te conhecem do avesso. Você não tem lembranças de verão com gosto de picolé, excursões de bicicleta e sorrisos sem dentes com os seus novos amigos. Ninguém viu você crescer. E é triste e libertador ao mesmo tempo. Você pode ser quem você quiser. Você pode ser você, sem julgamentos sobre o seu passado. Ninguém te conhecia anos atrás.
Mas é disso que você sente falta.
E você sente falta da cidade onde você cresceu - o única lugar onde você ficou por mais tempo. Você sente falta de coisas que você não tem mais e de repente você se pergunta se está na hora de retornar àquele lugar. Onde a sua jornada começou. Onde você ainda era a menina que só sonhava em ir embora, mas que nunca tinha ido. Onde você ainda era uma só.

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